Aposto que você já ouviu sua avó falar “na minha época as coisas duravam mais”. E ela está coberta de razão. Aquelas geladeiras antigas, super pesadas e com cor de gosto duvidoso, continuam funcionando muito bem em diversas casas. Aí você pode se perguntar “mas se temos uma tecnologia mais avançada do que naquela época, por que os produtos que compramos estragam com tanta facilidade?”. E a resposta é simples: eles estão sendo feitos para isso. Não, você não entendeu errado. Aquela TV de plasma, super moderna e de última geração, que te custou o 13º salário e ainda algumas parcelas, pode do dia para a noite simplesmente estragar. Ah, e sem falar do valor do conserto.
Vocês já repararam que de uns anos para cá aquelas lojinhas pequenas, para consertos de eletrodomésticos em geral, vem desaparecendo? Isso por que o custo para arrumar é quase o mesmo de um produto novo, não valendo a pena para o consumidor. Isso se chama obsolescência programada, sendo definida por Bulow como a produção de bens antieconômicos, com curto tempo de uso, assim os consumidores tendendo a substituir os equipamentos por outros mais modernos.
Há poucos dias tivemos o lançamento do Iphone 5, e em apenas 24 horas mais de 2 milhões de aparelhos foram vendidos. Vale lembrar que não completou nem um ano do último lançamento da Apple, o Iphone 4s. As mudanças não foram muitas, mas já suficientes para que muitas pessoas deixassem seus aparelhos recém compramos pela novidade tecnológica. Neste exemplo vemos que o aparelho anterior, Iphone 4s, não deixou de funcionar, mas foi substituído por algumas pessoas apenas por não ser mais novidade. E aí entra a obsolescência percebida.
Na obsolescência percebida, o que é valorizado é a sensação do novo ou de melhor design. Sennett afirma “a sociedade contemporânea apresenta como característica principal o desapego às coisas. É em função da valorização do desapego que surgem os movimentos de descartabilidade dos produtos e o curto prazo de durabilidade dos mesmos. Isso quer dizer que essa caracterização da sociedade atual considera elevada a importância que as novidades têm para os consumidores modernos. O conceito de valorização do novo implica automaticamente na desvalorização do antigo. A nossa cultura de hoje incentiva a supervalorização do produto novo. Consequentemente, o produto anterior, mesmo que ainda desempenhe suas funções, perde seu espaço, é excluído. Um bom consumidor atualmente precisa se guiar por esses valores e mais alguns outros”.
Esse tipo de tática baseia-se exclusivamente no ego dos indivíduos, fazendo com que você se sinta compelido a comprar produtos da moda para se sentir parte da sociedade. Quem outro exemplo? Aquela televisão que passou anos na sua sala, quadrada, cinza, mas que tinha uma ótima imagem. Você logo a trocou por uma fina como papel. Ou aquele celular com tela verde, que atendia a sua funcionalidade básica: ligações. Ele também foi abandonado por um modelo que tira foto, entra na internet e tem vários jogos. É um ciclo vicioso, você compra, o produto estraga, se não estraga você o vê como velho, e todas as alternativas o levam a comprar algo novo.